O Brasil está cada vez mais próximo de dominar novas tecnologias para a produção do etanol ou bioetanol e se tornar referência mundial no assunto. Pelo menos esse foi o objetivo com a inauguração pelo presidente Lula, em janeiro de 2010, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP).
A ideia do Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, como é mais conhecido, surgiu da mobilização de cientistas, há cinco anos, motivada também por um estudo do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE/MCT), que identificou a possibilidade de o País aumentar a produtividade, tornar-se um grande exportador e de até substituir 10% da gasolina consumida em todo o mundo por etanol brasileiro até 2025.
O estudo permitiu apontar gargalos tecnológicos na agricultura, indústria e na ciência básica para se alcançar a meta. Para superar os obstáculos, considerou-se necessário aprofundar as pesquisas, buscar a sustentabilidade (econômica, social e ambiental) e parcerias com instituições, pesquisadores e outras lideranças e competências na área, tanto em território brasileiro como no exterior.
Pesquisas
O CTBE tem cerca de cem profissionais (entre engenheiros e técnicos). O laboratório desenvolve cinco programas de pesquisa voltados às áreas agrícola, industrial, avaliação tecnológica, ciência básica e sustentabilidade do etanol de cana-de-açúcar. Outro foco é a cooperação internacional para a troca de informações sobre a utilização de diferentes tipos de biomassa, entre os parceiros estão os Estados Unidos e o Chile.
Na agricultura, espera-se encontrar novas estratégias para reduzir custos, conservar melhor os nutrientes do solo e utilizar a água de modo mais racional. Um dos estudos busca diminuir a compactação do solo causada pela ação das máquinas, o que reduz a produtividade; já que essa etapa da produção é apontada como responsável por 70% do custo do etanol.
“Então, uma das coisas que esse programa agrícola traz é a importância de se fazer uma agricultura de precisão de cana-de-açúcar. Entender melhor o que está acontecendo usando ciência para entender o que está ocorrendo no campo e tentar aumentar essa produção, que é algo que o Brasil está fazendo bem ao longo dos anos, mas é possível melhorar ainda mais”, justifica o diretor do CTBE, Marco Aurélio Lima.
Ele sustenta que, quanto à produtividade, o Brasil fez a lição de casa e conseguiu dobrar a capacidade de retirar o etanol de um hectare de terra desde o início do Pró-álcool (Programa de substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo por álcool, financiado pelo governo a partir de 1975).
Agora, o desafio é ampliar a produção em grande escala; o suficiente para atender, inclusive, as demandas internacionais. Para isso, os pesquisadores se debruçam nos estudos, em especial, sobre o etanol celulósico ou de segunda geração, que utilizaria o bagaço e a palha da cana-de-açúcar para a produção do etanol.
Atualmente, o álcool/etanol é originado da fermentação do caldo da cana, mas o uso dos açúcares presentes nas outras partes da planta exige novos processos tecnológicos.
“Temos que estudar melhor a fotossíntese da cana. A cana é uma planta com cara brasileira, precisa ser entendida melhor em todo o seu processo de formação porque se queremos desconstruir a cana é bom que saibamos como ela é construída. Desta forma, o grupo de ciência básica do CTBE tem a missão de olhar desde fotossíntese até estratégias de separação de açúcares do bagaço e da palha e tudo mais”, esclarece Marco Aurélio.
Unidade industrial
Como parte de programa do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia (PACTI 2007 – 2010), foram investidos R$ 69 milhões para montar as instalações físicas do complexo, laboratórios e construir a base de equipamentos. A previsão é inaugurar a unidade industrial em meados deste ano.
A chamada Planta Piloto para Desenvolvimentos de Processo (PPDP) realizará testes e pesquisas científicas sobre o ciclo cana-de-açúcar/etanol em escala semi-industrial, facilitando a transferência de novos processos tecnológicos à indústria. Empresas também poderão utilizar a PPDP na execução de ensaios em escala inferior à trabalhada comercialmente, possibilitando aprimorar tecnologias.
“Muitos experimentos realizados em laboratório, não funcionam quando se aumenta a escala. O CTBE vai oferecer um ambiente para fazer escalonamento de processos desta natureza. O professor de uma universidade, que tem algo de sucesso de bancada, poderá usar nossa infraestrutura para verificar resultados“, exemplifica o diretor do centro.
Na avaliação de Marco Aurélio, o Brasil está hoje num momento muito especial por ser líder no assunto combustível líquido para carros leves. “Entramos atrasados no assunto do etanol de segunda geração, mas temos o melhor ambiente para isso. O CTBE nasce para tentar agregar esforços e temos a oportunidade de viabilizar a primeira indústria comercial de etanol celulósico integrado na primeira geração”, conclui.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
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