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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Semiárido nordestino pode se beneficiar das mudanças climáticas globais

O semiárido nordestino é a região mais vulnerável às mudanças climáticas no Brasil do ponto de vista econômico-social, afirma o metereologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), Paulo Nobre. Mas, segundo o especialista, a região poderia se beneficiar das características de seu clima e das alterações que estão ocorrendo nele nos últimos anos se fossem enxergadas nessas transformações oportunidades de negócios. E que se começasse a promover modificações em sua matriz econômica, que hoje é muito baseada em atividades dependentes de água.

“A seca é um fenômeno natural em regiões semiáridas”, atesta. “Porém, existem regiões no mundo com características semelhantes de clima e que estão se beneficiando disso, como o deserto do Saara, de onde a Europa pretende importar energia solar”, exemplificou o especialista na conferência que apresentou ontem (27) durante a 62ª Reunião Anual da SBPC – evento que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência realiza até 30 de julho no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN).

De acordo com Nobre, as temperaturas máximas e mínimas registradas no sertão nordestino estão ficando, ano após ano, mais elevadas, atingindo níveis muito superiores à média global. Por sua vez, as chuvas estão ocorrendo com maior intensidade, porém com menor frequência na região.

Em Vitória de Santo Antão, na zona da mata pernambucana, por exemplo, a temperatura máxima diária aumentou mais de 3º C nas últimas quatro décadas, saltando de 31,5º C para 35º C, contra 0,4º C, que foi a média do aumento da temperatura global verificado no mesmo período. Devido a esse aquecimento, a água disponível no solo da região está evaporando mais rapidamente e dando origem a nuvens maiores e mais carregadas de vapores de água que, ao se precipitarem, resultam em chuvas mais intensas, seguidas de longos períodos de estiagem. Em função disso, a prática da agricultura de sequeiro, que depende da água de chuva para o cultivo de culturas de subsistência, como feijão e milho, deve se tornar cada vez mais inviável no interior nordestino.

“O ciclo de chuvas no sertão do nordeste, que costumava a ocorrer no período de fevereiro a maio, e que possibilitava manter as culturas de sequeiro, não está ocorrendo mais”, observa. “Devido a essa mudança no ciclo hidrológico, a agricultura de subsistência está definitivamente fadada a desaparecer na região”, aponta.

Por outro lado, o especialista analisa que essas mudanças no ciclo hidrológico nordestino beneficiam o cultivo de frutas pelo sistema de irrigação por gotejamento, que é praticado em cidades nordestinas como Petrolina, no Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, em que são utilizadas pequenas quantidades de água para a plantação de uva e manga, entre outras frutas. Entretanto, como nem todo o solo do nordeste é apropriado para esse tipo de atividade agrícola e a água está sendo tornando escassa e cara na região, a recomendação do metereologista é que a economia nordestina seja baseada cada vez mais em atividades que apresentem menor dependência desse recurso natural.

Um dos exemplos dado por ele nesse sentido é a geração de energia renovável, como por exemplo, a solar e a eólica, para as quais o nordeste apresenta maior potencial no País. Na opinião dele, ao apostar em atividades econômicas mais adequadas às características climáticas do nordeste seria possível acabar com associação direta que se faz, inclusive no meio acadêmico, entre a seca e a pobreza na região. “É um contra-senso que a seca permaneça sendo vista como a causa da pobreza do nordeste brasileiro, enquanto em outras partes do mundo ela representa um grande potencial econômico”, conclui.

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