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terça-feira, 14 de abril de 2009

BANCO DE DNA AJUDARÁ A ENCONTRAR PESSOAS DESAPARECIDAS

Os brasileiros que procuram filhos ou descendentes desaparecidos passam a contar, a partir desta semana, com um banco de DNA que irá ajudar a identificar crianças perdidas. O Projeto Caminho de Volta, lançado pelo Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), montou um laboratório com um seqüenciador automático de DNA (Ácido Desoxiribonucleico), que reúne os elementos genéticos que identificam cada ser humano. Avaliado em R$ 1 milhão, o equipamento permitirá analisar duas mil amostras de material genético por semana. Ele será primordialmente usado para análise genética de jovens que vivem em abrigos públicos ou foram encontrados pela polícia. Gilka Figaro Gattás, professora da FMUSP e coordenadora do trabalho, explica que a localização das crianças normalmente acontece quando alguém da população as identifica por fotos. “Só que, muitas vezes, essas crianças envelhecem, mudam de fisionomia ou estão desaparecidas há mais de dez anos e o reconhecimento fica muito difícil”, diz. A genotipagem otimizará o atual sistema de busca, registro de dados e troca de informações. A coordenadora explica o novo processo: “A análise do DNA extraído gera um perfil que é inserido em um banco de dados. O perfil dos pais é arquivado em um banco e o dos filhos em outro. Toda vez que uma criança sem filiação é encontrada, essas informações genéticas são cruzadas. Se não for encontrada nenhuma compatibilidade, o DNA fica arquivado no banco de dados. Sempre que entra no sistema um pai, ou uma criança, automaticamente os bancos são cruzados”. Gilka acredita que o material genético é um instrumento de busca eficaz, porque é imutável. “O perfil de DNA fica para o resto da vida”, diz. Para ela, isso se torna útil, por exemplo, para evitar o constrangimento das famílias, que precisam identificar diversas crianças ao longo de todo o processo. “Imagine uma mãe que está procurando um filho há anos. Ela é constantemente chamada para reconhecer se a criança encontrada é seu filho ou não, muitas vezes em outros estados. Precisa passar por essa situação quinze, vinte vezes. Com o DNA isso não precisa acontecer. É só cruzar a informação biológica e ver se é compatível, se existe ligação ou não”. Um dos grandes diferenciais do projeto é aliar biologia molecular, psicologia, informática e telemedicina. Além da coleta do DNA e do cruzamento das informações, o grupo irá fornecer atendimento psicológico às famílias – desde o início do processo de busca, com a realização do boletim de ocorrência, até a criança ser encontrada e reintegrada à família. Também irá capacitar os integrantes de outros estados e das delegacias conveniadas pelo ensino à distância, criará uma rede para o compartilhamento das informações entre todas as instituições participantes e fará um levantamento dos fatores de risco do desaparecimento das crianças. Cerca de 8 mil crianças desaparecem por ano no Estado de São Paulo, segundo dados da Delegacia de Pessoas Desaparecidas, ligada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Acredita-se que, na maioria dos casos, a causa do desaparecimento esteja ligada à negligência, violência doméstica, abuso sexual ou miséria. “Esse levantamento nunca foi feito, por isso não podemos afirmar nada. Pretendemos avaliar essas famílias do ponto de vista emocional, estrutural e sócio-econômico para, no futuro, podermos estabelecer medidas de prevenção”, conta Gilka. O Projeto Caminho de Volta montou uma sala dentro do DHPP, para atender imediatamente às famílias que forem fazer queixa de desaparecimento na delegacia. Elas entram automaticamente no projeto. O seqüenciador foi pago pela iniciativa privada. Os materiais necessários para realizar o exame e os custos do processo serão bancados pelo governo do Estado de São Paulo. A coordenadora acredita que em breve o sistema será adotado em outros estados do país.
Agência Brasil

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