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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ESPECIAL: Resistência ao preservativo ameaça 72% das cinquentonas.

Nos últimos dez anos triplicou o número de mulheres, nessa faixa etária, infectadas pelo HIV. Para essa geração, camisinha estava associada à prevenção de gravidez.

Aos 47 anos, a psicóloga Regina Cohen descobriu que tinha sido infectada pelo vírus HIV durante uma relação eventual. Onze anos depois, aos 58, ela é exemplo de como o número de novos casos de Aids, nos últimos dez anos, triplicou entre as mulheres nessa faixa etária. Em 2006, 1.800 casos foram identificados neste grupo. Dados parciais de pesquisa de comportamento sexual dos brasileiros, realizada pelo Ministério da Saúde, em 2008, indicam que 72% das brasileiras nessa faixa etária não usam camisinha com parceiros casuais. O descaso com a prevenção está relacionado à dificuldade em negociar o uso do preservativo com o parceiro e a falsa percepção de que as mulheres acima dos 50 anos estão imunes ao vírus. A pesquisa de comportamento revelou ainda que mais da metade delas (55,3%) é sexualmente ativa. O problema é na hora de se prevenir. Enquanto o uso regular de camisinha nas relações casuais no grupo de 15 a 49 anos fica em 47,5%; nos mais velhos, esse índice é de apenas 34,8%. O recorte por sexo mostra que o público feminino está em situação mais vulnerável. Só 28% das “cinquentonas” e mais velhas adotam a prevenção. Entre os homens, o número sobe para 36,9%.Regina lembra que, à época, não tinha a menor preocupação com o uso de camisinha. “Simplesmente acreditava que os meus parceiros tinham uma aparência saudável e aquilo era suficiente para eu nem tocar no assunto”. A confirmação da doença veio após ela ter sido vítima de pneumonias e de uma série de infecções. “Nem os médicos achavam que eu podia estar com Aids. Eu já tinha perdido 26kg e ninguém sugeriu um exame de HIV. O teste foi feito apenas quando fui internada às pressas num quadro crescente e gravíssimo”. A coordenadora do Programa Nacional de DST e Aids, do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, avalia que essas mulheres iniciaram a vida sexual num período em que a Aids não era conhecida. “De maneira geral, está no imaginário feminino que a camisinha previne a gravidez. As mulheres não percebem que, em qualquer idade, elas estão vulneráveis a uma série de doenças sexualmente transmissíveis”.
Mais de 35 mil casos de Aids são diagnosticados no Brasil a cada ano. Entre as mulheres acima dos 50 anos, a taxa de incidência é 11,6 casos por 100 mil habitantes.Em 1996, o índice era de 3,7 casos. Estima-se que, pelo menos, 255 mil brasileiros estejam infectados pelo vírus da Aids e ainda não tenham feito o exame. “Em cerca de 40% dos casos, o diagnóstico da infecção é feito de forma tardia. Isso retarda o acompanhamento e compromete ainda mais o estado clínico do paciente”, explica Mariângela Simão. Gilson Gomes de Souza está casado com Regina Cohen há sete anos. Os dois se conheceram na ante-sala de um consultório médico, em Brasília. Portador do vírus há 20 anos, ele afirma que apesar de os dois serem soropositivos, o uso da camisinha continua indispensável. “A recontaminação pode ser fatal para a minha mulher. A relação é de muito cuidado e respeito com a fragilidade do organismo de cada um. O preservativo é a nossa segunda pele. Ou faz com preservativo ou não faz”. No caso dele, após um longo período de medicamentos o vírus tem demonstrado maior resistência. Por causa dos remédios - primeiro o AZT, em seguida inibidores de protease, depois o coquetel de anti-retrovirais - Gilson foi submetido a várias aplicações e a retirada de gordura no rosto e no corpo, por causa dos efeitos da lipodistrofia. “Quando descobri a infecção, a Aids era uma sentença de morte e o tratamento, um sonho distante. Hoje, consigo conviver com a doença, mas é uma luta diária para conquistar qualidade de vida”. TRATAMENTO – Em 2008, o Brasil gastou mais de R$ 1 bilhão com medicamentos para os pacientes com HIV. Desde 1996, no Sistema Único de Saúde, o tratamento é assegurado gratuitamente a qualquer cidadão com Aids. No total, são 18 drogas – 11 importadas, de nove companhias farmacêuticas; e sete nacionais, produzidas por uma indústria privada e seis laboratórios públicos.
Ainda este mês, está previsto o início da produção de Efavirenz pela fábrica de Farmanguinhos, no Rio de Janeiro. Cerca de 85 mil, das 185 mil pessoas em tratamento, utilizam o medicamento. Além da produção do Efavirenz, a Fiocruz estuda a possibilidade de produzir genéricos do Tenofovir. De acordo com o ministro José Gomes Temporão, o início da produção nacional do genérico do Efavirenz confirma o compromisso do governo brasileiro com o fortalecimento da indústria nacional e com o desenvolvimento de tecnologia no País. “Isso reforça o papel da saúde como parte da estratégia de desenvolvimento. É o reconhecimento de que a saúde não é apenas uma política social relevante, mas também um espaço fundamental de desenvolvimento de conhecimento, emprego e riqueza”.

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